Treino para condromalácia patelar. Aposto que você clicou no link deste texto com a expectativa de encontrar uma receita de bolo para tratar esta condição…não?
Antes de apontar na direção do tratamento, faremos uma breve introdução sobre o que é a condromalácia patelar; seus graus; e o que a área da saúde diz a respeito deste problema.
A condromalácia patelar é uma perda de rigidez da cartilagem interna da patela, a qual permite que a patela percorra sobre o fêmur nos movimentos de extensão/flexão dos joelhos, muito comuns nos exercícios que correlacionam condropatia e fortalecimento.
Ao avaliar o exame de imagem, o médico determinará a evolução da condição em quatro graus: Grau I: amolecimento da cartilagem; Grau II: seu desfiamento; Grau 3: rachaduras na superfície; e Grau IV: exposição do osso subcondral.

Entretanto, como veremos a seguir, independentemente do grau diagnosticado, o treino para tratar condromalácia patelar pode seguir alguns requisitos em comum.
Este quadro lesivo pode surgir de uma predisposição hereditária ou traumática. Seus sintomas mais comuns são: dor relacionado a esforços; dificuldade para subir e/ou descer escadas; crepitações; sensação de fraqueza na coxa e falseio.
Contudo, muitas pessoas podem apresentar a condromalácia na imagem e ser totalmente assintomáticas, especialmente se realizam preventivamente exercícios para a proteção dos joelhos.
Um artigo de 2020, do Colégio Brasileiro de Radiologia, sugere que aproximadamente 80% das pessoas que realizam um exame de imagem podem apresentar a lesão. Este mesmo estudo aponta que a prevalência é maior em mulheres com mais de 40 anos e obesas, especialmente nos graus mais graves (III e IV).
Estima-se que 40% dos indivíduos jovens também podem ser afetados, na maioria mulheres, mas com maior prevalência dos graus I e II.
Um especialista no tema reforça estes dados dizendo que este tipo de lesão atinge de 2 a 3 vezes mais mulheres.
Como principais grupos de risco, mulheres jovens e adultas devem tomar cuidado com fatores como: valgismo, alterações no ângulo Q; tipo de pisada; falta de mobilidade articular em tornozelos, joelhos e quadris e inibição muscular do quadríceps.
De modo geral, esta condição “é responsável por 75% das queixas de dor no joelho na população ativa”.
Diante deste quadro, o ideal é que você procure por um fisioterapeuta de sua confiança para avaliar seu quadro e direcioná-lo para o melhor tratamento para condromalácia patelar.
Apesar de abrangente em conhecimento, a abordagem prática da área da saúde quanto a lesão ainda é difusa e, por vezes, intimidante ao paciente. A fraqueza muscular, a dor e o medo são limitantes quanto ao treino para o tratamento da condromalácia patelar.
Devido a um terrorismo biomecânico promovido por alguns profissionais, não são raros os pacientes que desenvolvem um quadro de cinesiofobia, sentido-se incapazes de realizar movimentos básicos do dia a dia, como agachar, por exemplo.

Quanto a abordagem, o que resumidamente diz a área da saúde? Como é uma lesão não regenerável, seu tratamento consiste em estabilizá-la. Para isso, médicos e fisioterapeutas avaliam pontos de sobrecarga através das avaliações de imagem e/ou funcionais, e por dinamometria isocinética.
Geralmente, após o diagnóstico, prescrevem/aplicam terapias manuais, gelo, eletroterapia, exercícios de alongamentos e mobilidade, e reforço muscular específico.
Muitos médicos adotam recursos medicamentosos como abordagem inicial ao quadro de dor referida, lançando mão da glicosamina/condroitina (condroprotetores) ou do Hialuronato de sódio (infiltrações).
Além disso, somente após tentativas frustradas de abordagens conservadoras (fisioterapia e treinamento) é que cogita-se o procedimento cirúrgico aos pacientes com quadros mais graves.
Quanto aos tipos de movimentos, as sugestões variam muito de acordo com o profissional. Obviamente, a prescrição dos exercícios deveria ser realizada por um fisioterapeuta ou educador físico, dependendo da fase do tratamento.
Tanto nos exercícios de cadeia cinética fechada (agachamento, por exemplo), como nos exercícios de cadeia cinética aberta (cadeira extensora, por exemplo) existem diferentes indicações de ângulos de extensão de joelhos mais seguros para se trabalhar.
Ângulos de 0 a 10º e de 50 a 90º são sugeridos para exercícios de cadeia aberta. Para cadeia fechada, seriam mais seguros ângulos entre 0 e 50º.

Contudo, fatores como lateralização da patela, contato patelo-femoral e, especialmente, a dor referida em determinados ângulos precisam ser considerados na seleção dos exercícios, avaliando seus riscos-benefícios.
Finalmente, no restante do texto você encontrará dicas consistentes de um profissional de educação física com experiência no tratamento para fortalecimento das musculaturas que envolvem o joelho acometido pela condromalácia patelar.
Existe treino para condromalácia patelar? Quem tem, pode treinar?
Não existe receita de bolo pronta para ser aplicada ao problema. O cerne da questão é a escolha adequada dos exercícios para condromalácia patelar de acordo com a avaliação individual. O indivíduo acometido, não só pode como deve buscar um programa de treinamento.
De maneira geral, a preocupação principal do educador físico ao receber o paciente do fisioterapeuta deve ser a estabilização das articulações dos quadris, joelhos e tornozelos.
Na estrutura de treino para condromalácia patelar, o educador físico pode optar por exercícios de Core (músculos abdominais, lombares e dos quadris), de membros inferiores, de propriocepção, de alongamento e mobilidade e, por fim, atividades de baixo impacto.
Entretanto, a utilização destes exercícios para o tratamento da condromalácia patelar deve ser adaptada ao quadro global do paciente, identificando possíveis desequilíbrios musculares, desvios posturais e ângulos de dor.
Evidentemente, todas as orientações técnicas sobre o problema são válidas e merecem ser consideradas, no entanto, repito o alerta feito acima para que profissionais e pacientes não caiam na armadilha do medo aos movimentos e da precipitação à procedimento cirúrgico.
O treino para fortalecimento do joelho acometido pela condromalácia patelar tem potencial para evitar ou prolongar a ida à cirurgia, mesmo em casos graves como nos graus 3 e 4 do problema.
Nos próximos tópicos, detalharemos um pouco mais as possibilidades de uso de alguns exercícios específicos para treinos voltados ao tratamento da condromalácia patelar, em quaisquer de seus estágios.
Condromalácia Patelar: tratamentos e a proteção do joelho
O primeiro passo do tratamento da condromalácia patelar é a fisioterapia. Especialmente nos casos de pacientes sintomáticos e com comprometimento das atividades de vida diária.
Geralmente, o fisioterapeuta lançará mão de recursos como:
- Aplicações de gelo;
- Eletroterapia;
- Liberação Miofascial e mobilização patelar;
- Alongamento e Mobilidade;
- Exercícios de fortalecimento do Core;
- Exercícios de fortalecimento do quadríceps e isquiotibiais;
- Exercícios de propriocepção.
O uso de gelo no local, de 3-4 vezes ao dia, por aproximadamente 20 minutos, é um aliado poderoso na etapa de analgesia e mitigação da dor.
Do mesmo modo, a eletroterapia atua na redução da dor e na melhora função articular do joelho. Em conjunto, estas medidas são fundamentais no tratamento da condromalácia patelar e na melhora da qualidade de vida da pessoa.
A liberação miofascial possui alguns benefícios, dentre os quais a melhora da circulação local, da mobilidade e da amplitude de movimento, minimizando a possibilidade de dor e melhorando a eficiência dos movimentos.

Os exercícios de alongamento muscular e mobilidade articular apresentam benefícios similares aos da liberação miofascial, atuando na amenização das tensões em músculos hiperativos e com encurtamentos severos.
Dentro desta visão global do tratamento da condromalácia patelar, o fortalecimento da região do centro de gravidade do corpo (Core) visa gerar estabilidade ao corpo, dando suporte aos outros tipos de movimento, principalmente nos exercícios de potência e equilíbrio.
Outros exercícios realizados ainda na fisioterapia, são aqueles direcionados aos músculos do quadríceps (região anterior da coxa) e dos isquiotibiais (região posterior coxa), de modo que o fortalecimento destes propiciará proteção e equilíbrio à articulação do joelho.
Finalmente, os exercícios de equilíbrio e propriocepção tem como objetivo induzir a pessoa a adaptar-se a diferentes estímulos motores, aperfeiçoando sua agilidade, coordenação, e fortalecendo músculos sinergistas e tecidos moles que compõem as articulações (ligamentos e tendões).
Condropatia e Fortalecimento: dicas de exercícios
Esta será a etapa subsequente a liberação do paciente as sessões de fisioterapia. No planejamento de treino para uma pessoa com diagnóstico de condromalácia patelar você perceberá que, num primeiro momento, muitos exercícios serão complementares aos realizados na fisio.
Contudo, gradualmente, o educador físico poderá aumentar a intensidade dos esforços e incluir novos elementos aos treinos, projetando passo a passo, o retorno do cliente as suas atividades esportivas preferidas.
Priorize exercícios de cadeia cinética fechada
Os termos cadeia cinética fechada e aberta não são claros e podem mais confundir do que esclarecer o público leigo. No entanto, são termos e conceitos amplamente utilizados no meio acadêmico/científico.
Para simplificar ao leitor, diremos que os exercícios de cadeia aberta são aqueles onde apenas uma articulação está envolvida no movimento (exercícios isolados). Como exemplo destes exercícios, e que o joelho está envolvido, temos a flexão de joelhos e a extensão de joelhos.

Já os exercícios de cadeia fechada são exercícios multiarticulares (que trabalham mais de uma articulação ao mesmo tempo). São exemplos destes exercícios: o afundo, o agachamento e o leg press, entre outros.
A prioridade pelos exercícios multiarticulares se deve ao fato de que são consideravelmente mais seguros, funcionais e completos para qualquer público, especialmente para aquele que precisa de um treino pensado para o quadro de condromalácia patelar.

Este tipo de movimento é mais seguro pois, se ajustados conforme a ausência de dor, deixará a articulação lesionada menos exposta as forças compressivas e de cisalhamento que a cadeira extensora, por exemplo.
Além disso, são exercícios funcionais e completos porque trabalham vários músculos ao mesmo tempo ao passo que simulam movimentos de atividade de vida diária (AVDs), como subir escadas e sentar e levantar.
No entanto, vale ressaltar que esta é apenas uma sugestão geral, que não anula a possibilidade de uso de alguns exercícios isolados específicos, de acordo com a necessidade e tempo do aluno.
Alongar músculos visivelmente encurtados
Não são raros os casos de alunos que apresentam desequilíbrios musculares visíveis entre a loja anterior e posterior da coxa. Especificamente as mulheres adultas, tendem a apresentar uma menor ativação e força nos isquiotibiais e, por vezes, associadas a um encurtamento local.

Ou seja, surge um quadro de músculo fraco e encurtado antagonizado por um quadríceps numa condição um pouco melhor. Esta condição pode surgir acompanhada de encurtamentos nas panturrilhas e na musculatura adutora dos quadris, mas é necessário avaliar caso a caso.
Utilize exercícios de propriocepção
Estas são algumas das principais ferramentas a serem aplicadas em pessoas na fase de recuperação de alguma lesão, mesmo após a fisioterapia.
Não desconsidere a importância destes estímulos, pois eles são fundamentais no objetivo de estabilizar as articulações dos tornozelos, joelhos e quadris.
Seus estímulos podem progredir desde exercícios simples no solo ao uso de aparelhos como a cama elástica, o bosu e os discos de equilíbrio. Em níveis mais avançados, podem ser utilizados objetos (bolas) para tornar os exercícios mais desafiadores.

A continuidade do fortalecimento do Core
Assim como nos outros tipos de exercícios, os trabalhos de Core são realizados na esteira do que havia sendo feito na fisioterapia.
Esta continuidade poderá se dar com a promoção de exercícios mais desafiadores ao aluno e, obviamente, considerando seus possíveis desvios articulares, principalmente no quadril. Anteversão, retroversão e síndrome pélvica cruzada são alguns dos desvios de quadril comumente encontrados em pessoas com condromalácia patelar.

O fortalecimento do assoalho pélvico e dos músculos abdominais e lombares, em conjunto com o uso de palmilhas e/ou outras estratégias avaliadas individualmente, pode minimizar desequilíbrios musculares e promover a desejada estabilidade do problema.
Não priorizar a progressão de cargas
Aumentar cargas não é o único modo de progredir nos exercícios, e menos ainda, a maneira mais segura de gerar estímulos num treino para condromalácia patelar.
Uma excelente estratégia para intensificar os treinos sem necessariamente subir cargas é a utilização de métodos de intensificação para hipertrofia, como Bi-sets, Rest-Pause, Drop-set, entre outros.
Estes estímulos, proporcionam um desejado estresse metabólico na musculatura sem exigir da articulação o alto preço que seria cobrado num treino que somente aumentasse cargas.
“Professor, quem tem condromalácia patelar pode…?”
Os tratamentos para condromalácia patelar mostram muitas variações de opiniões e variedade de movimentos condenados e liberados. Como dito anteriormente, não há um consenso sobre a melhor abordagem e, menos ainda uma receita para solucionar o problema.
O que deve pautar a orientação é o bom senso de não trabalhar em angulações que causem dor e procurar uma sequência gradativa de exercícios de fortalecimento, iniciando com os mais fáceis, estáveis e seguros. Se o aluno refere dor então seria adequado restringir as atividades que possam causar atrito patelar (como a corrida, bicicleta, aula de step) até que se tenha feito um fortalecimento adequado.
O sujeito acometido deve buscar uma vida normal e tentar, dentro de alguns cuidados, realizar suas atividades cotidianas e esportivas naturalmente. Os treinos voltados para condromalácia patelar podem ser intensos como em qualquer outro caso, porém devem ser respeitados os feedbacks de dor e inchaço no joelho.
Neste texto você aprendeu noções gerais desta condropatia, o que a ciência diz sobre o tema, a necessidade de superar o medo dos movimentos e algumas aplicações práticas sobre fisioterapia e treinamento.
Para saber mais dicas de treino para enfrentar a condromalácia patelar visite nosso site e nossas redes socias e tenha acesso a conteúdos completos sobre diferentes tipos de lesão ou doenças.